"Tornei-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade" - Edgar Allan Poe

W. R. SANTHOS

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Porto Alegre, Rs, Brazil
Escritor. Pintor. Cineasta Amador.

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sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O Filho - Parte 4



 

O piso que era branco como porcelana, agora estava vermelho, e por um motivo bem macabro. Havia sangue por toda a parte, ele nunca mais iria esquecer aquele tom de vermelho. Era tão escuro que os distraídos poderiam crer que era cor de vinho quase ficando preto. O cheiro parecia uma entidade viva, impregnava o nariz com força, como o soco de um boxeador.

Ele sentou na cadeira, também ensopada de sangue. Não tinha outro lugar pra ficar no momento. Suas pernas estavam bambas, não conseguia mais sustenta-las em pé. Limpou um pouco de cima do acento, o que nessa altura era um pouco desnecessário, pois ele mesmo também estava encharcado de sangue. Ambas suas mãos tremiam sincronizadas, parecia que tinham achado o mesmo ponto, e esse ponto era o pavor.



No meio daquela catástrofe que estava inserido, ele veio engatinhando calmamente e sorridente, como se estivesse em um parque de diversões. Na primeira vista, parecia apenas um bebê lindo e fofo no meio daquele pandemônio. Mas ele sentado ali sabia da terrível verdade. O bebê veio se aproximando dele, não tinha mais medo, tinha aceitado a sua morte, só queria que fosse rápida.

Chegou na sua perna, o mais estranho é que ele não se sujava com o sangue, permanecia limpo. Agora se comportava como um bebê normal, bateu na sua perna com aquelas mãos rosadas e pequenas. Parecia querer ser pego no colo. Ele olhou com estranheza, não sabia como reagir ao que estava sendo sugerido.

Aquele momento de indecisão pareceu uma eternidade. Aquele bebê com um dos braços esticados, sorridente pra ele, parecendo ser a criatura mais inofensiva e inocente do mundo. Mesmo se tremendo todo pegou o bebê. O colocou contra seu ombro, não queria olhar pra ele.




Era bem pesado, e já estava do tamanho de um bebê de vários meses, apesar de só ter nascido recentemente. Riu e se sacudiu no seu colo, teve vontade de joga-lo longe, mas ainda parecia normal, e não o monstro que tinha feito tudo aquilo. As coisas pareciam tão confusas e complexas no momento. Ele já não sabia mais o que pensar.

Sua tensão e medo foi diminuindo conforme o tempo foi passando com aquele bebê no colo. Pensou que ele tinha voltado ao normal. Ficou ali embalando ele durante um tempo, por alguns segundos imaginou que tudo estava normal. Mas foi apenas um vislumbro. O bebê ficou duro, e falou baixinho no seu ouvido. ” – Você será minha testemunha! ”.





sexta-feira, 31 de julho de 2020

A Mão no Banheiro





Era quase meia noite e a vontade de ir ao banheiro só aumentava. Não sei ao certo quanto tempo mais aguentaria. E também não conseguia mudar de pensamento, tudo voltava para a minha necessidade, que naquele ponto já era urgente. E não era só o pensamento, minha bexiga parecia que explodiria a qualquer momento, evitei de me mexer durante um tempo, para não acontecer nenhum acidente.

Tinha oito anos quando isso aconteceu. O dia tinha sido agitado com brincadeiras e diversão. Era sexta-feira, então no dia seguinte não tinha que acordar cedo para ir estudar, tudo era só alegria. Ainda durante o dia, minha tia e primo apareceram para fazer uma rápida visita, ela precisava falar com minha mãe, eu e meu primo ficamos brincando no pátio.




No terreno tinha duas casas, a nossa onde eu morava com meus pais e irmãos, e a da minha vó, que era grande e de madeira. Eu e meu primo fomos almoçar na vó, e foi nesse momento que ele me contou uma história. Nós, os netos, como nossa vó morava com nossa outra tia, mas ela trabalhava de noite nos fins de semana, tínhamos o costume de dormir com ela nesses dias.

Meu primo me contou, que uma vez em que foi dormir lá, quando foi no banheiro de noite, uma mão apareceu na janela do banheiro. Minha reação foi ficar em choque. Sempre fui meio cagão com essas coisas sobrenaturais, não pensei em outra coisa, apenas que era algum monstro ou uma assombração.

Eles foram embora, e o dia junto com eles. A noite finalmente chegou e com ela a notícia que me deixou mais em choque ainda. Minha mãe disse que essa noite eu dormiria na minha vó. Dês daquele momento fiquei tenso. Eu não tinha opção, e não queria falar que estava com medo. Pelas 21h peguei meu travesseiro, e parti pro meu destino.

Atravessar o pátio até a casa da minha vó, foi uma sensação parecida com ser um soldado no campo de guerra. A garganta seca, as pernas tremendo, e aquele desconforto no peito. A casa da minha vó era de madeira e enorme, e o que também eram grandes, o sótão e o porão. A casa rangia a cada passo que se dava, isso de dia, de noite até uma formiga que andando pelo chão fazia barulho.

O primeiro cômodo da casa era o fatídico banheiro, seguido de um pequeno corredor. Logo em seguida a cozinha, depois a sala, e um longo corredor que no meio era o quarto da minha vó, e no final o quarto da minha tia que ficava fechado.

A noite avançou e nos deitamos na cama. Ela tinha o costume de assistir o “Programa do Ratinho”, e ele tinha um quadro no final do programa de casos sobrenaturais, isso só me deixou ainda mais com medo.

Não existia uma porta no quarto, então a visão para o corredor escuro era completo. Fiquei com um olho na televisão e o outro no corredor. Meu coração disparava a qualquer sinal de movimento. Alguns ratos passavam sorrateiros, com o silêncio da noite pareciam passos de pessoas.

Com minha vó já dormindo há muito tempo, não aguentei mais a vontade de ir ao banheiro. Levantei devagar, estava um pouco frio, e somado com meu medo, eu me tremia todo. A cada passo que eu dava, aquela madeira velha do chão fazia um barulho aterrorizador. Passar pela sala era um grande desafio, ela era grande e tinha luzes pisca-pisca de natal, que minha vó deixava acessa o ano inteiro. Isso deixava sombras assustadoras naquele cômodo da casa, o interruptor da lâmpada do teto ficava longe, então não era uma opção.

Passei pela sala olhando sempre reto, não olhando para totalidade do local. Assim que cheguei na cozinha acendi a luz do lugar, esse interruptor ficava já na entrada. Passei sem problemas, mas ela me levava ao inevitável encontro com meu destino final, o banheiro.

Fiquei parado na entrada, com medo, mas tinha um problema, estava muito apertado. Então entrei e acendi a luz. A pequena janela de vidro, que ficava mais alto do que eu poderia alcançar estava entre aberta. A minha urina parecia que estava saindo com cacos de vidro, tamanha era a minha tensão.

Enquanto tremia tentando não urinar no chão, ficava de olho na janela. Finalmente terminei, não tive coragem de fazer qualquer outra coisa ali, sai rapidamente. Passei pela cozinha e apaguei a luz, quando estava atravessando a porta uma mão me segura pela camisa.


by W. R. SANTHOS

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Terror em Quarentena




Dois anos trancado nesse cubículo. E há cinco horas olhando por essa janela sem piscar. A quarentena se estendeu muito mais do que qualquer especialista tinha previsto, o vírus mudou, se adaptou, ficou mortal. Andar pela rua agora é proibido por lei, apenas algumas pessoas, com uniformes estão autorizadas a circular, entregando mantimentos e outras coisas.

Escutei gritos e corri pra janela do meu quarto, tive que olhar entre as madeiras que preguei nela. Apesar de morar no segundo andar do prédio, a janela do meu quarto é de fácil acesso. Uma coisa que não disse, foi a mutação que o vírus sofreu, ele pode matar qualquer um infectado agora, e não apenas os idosos estão mais suscetíveis. E os que sobrevivem, se tornam pessoas violentas descontroladas, muito parecidas com zumbis, as pessoas se tornaram um caos assim como o mundo novo.

Uma ambulância parou na esquina. De dentro não saíram enfermeiros ou médicos, mas sim soldados armados. Carregados de fuzis e outras armas, que desconheço o nome. Fizeram um perímetro em volta da ambulância como se fosse um lugar estratégico para um confronto. Fechei mais minha janela deixando apenas uma fresta bem pequena, mas eu tinha a visão de tudo.


Não demorou muito, e o que estavam esperando apareceu. Eram no mínimo umas dez pessoas, totalmente descontroladas, com roupas sujas e esfarrapadas, pareciam que estavam a meses sem tomar banho, o cheiro podre era tão forte que chegou até a mim. Os soldados gritaram para as pessoas se afastarem, mas elas não escutavam e continuaram avançando ameaçadoramente.


Quando estavam a centímetros de distância, os tiros começaram. As pessoas não recuaram, pareciam ter ficado burras, foram caindo uma a uma, e o sangue foi colorindo o chão. Meu coração disparou, até aquele momento não tinha ainda visto uma pessoa ser morta, e fiz minha estreia da pior maneira possível, vendo várias ao mesmo tempo.

Sentei na minha cama refletindo sobre o que tinha presenciado, deitei tremendo um pouco. A cada momento que pensava mais nisso ia ficando mais em choque. Estava pensando em sair um pouco e me aventurar na rua, estava farto de ficar trancado sozinho, mas depois dessa demonstração do que estava acontecendo realmente, essa ideia tinha que ser retirada da minha cabeça.

Levantei bruscamente com mais barulhos vindos da rua. Pensei que fossem os soldados indo embora, mas dezenas de outras pessoas estavam atacando eles. Essas pessoas não pareciam estar “zumbificadas” como as outras, estavam vestindo mascaras e luvas, e atacavam ordenadamente. Eram pessoas enclausuradas assim como eu. Essa revolta popular, e terra de ninguém, é o que me dá mais medo.

Os soldados hesitaram por alguns momentos, por conta de serem pessoas “normais”, mas logo abriram fogo, tarde demais, pois eram muitos e já estavam encima. Os soldados foram mortos e a ambulância roubada. Volto pra minha cama, em seguida levanto novamente, alguém bateu na minha porta. E isso me assustou pra caralho!

CONTÍNUA....



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