"Tornei-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade" - Edgar Allan Poe

W. R. SANTHOS

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Porto Alegre, Rs, Brazil
Escritor. Pintor. Cineasta Amador.

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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

"Olomoph" - Escrito por Fábio "Darren"

           

       Já era noite. A lua predizia o quão ela seria boa. No final da Rua Bom Vientos, nas casas 43 e 44, dali a poucos minutos, sairiam dois desbravadores. Lucas era magro com a cabeça levemente maior que o corpo, branco e de membros alongados, já Roberto era um gorduchinho moreno, de rosto fechado que todo amigo deveria ter no momento de perigo, ambos tinham 9 anos.

       Exatamente as 22:30 daquela noite fria os garotos se encontraram perto de um caminhão velho estacionado na esquina da Bom Vientos. Com um gesto de mãos os dois confirmaram que estava tudo ok, seus pais estavam dormindo achando que seus filhos também.



          Eles percorreram algumas ruas de bicicleta até chegarem em frente ao “Murão” como era conhecido por eles, mas não passava de uma parede que demarcava o território de uma empresa de fabricação de ração para galinhas. A fábrica estava ali à anos, comprara o terreno a preço de banana de um antigo solado que carregava o terreno a gerações, o velho soldado se mudou da cidade amaldiçoando aquele lugar como “cemitério de hereges”. A empresa tinha um maquinário pequeno, então não usava muita parte do terreno e mantinham a floresta que o cercava.

       
 Lucas e Roberto deixaram suas bicicletas encostada na parede e se dirigiram a um buraco no muro no qual já vinha sido estudado por eles pela manhã enquanto voltavam do colégio. A entrada não foi difícil. Os dois carregavam mochilas e lanternas, que até então estavam desligadas. Até o momento o plano estava acontecendo conforme planejado, agora atravessariam um pequeno campo que era o pátio maior da empresa e entrariam em uma mata um pouco mais densa no final da fábrica, e se guiando pelo mapa que tinha no celular de Lucas, precisariam caminhar mais um pouco e logo estariam no local onde na internet dizia que existia restos dos E.Ts de Bom Vientos enterrados.

         Passaram sem problema nenhum o pátio central da fábrica, sabiam que àquela hora os guardas em suas guaritas estariam assistindo a final do campeonato estadual. Pularam uma pequena certa de arame e invadiram a mata. Ligaram suas lanternas e repassaram as primeiras informações.

          Lucas informou a Roberto que se caminhassem ao norte por mais 30 minutos chegariam a uma grande pedra em forma de pera, e a partir dali, era só seguir mais 15 minutos a esquerda até chegar no local onde supostamente a nave tinha caído no caso da Invasão a Bom Vientos. Roberto concordou com tudo sem questionar muitas coisas, porém desconfiava de algo.

         Na medida que iam entrando mais fundo na floresta, os sons da pequena cidade iam sido substituídos por galhos quebrando, animais rastejando, aves agourando e pequenos olhos surgiam quando suas lanternas penetravam cada vez mais a floresta.

        O caminho até a Pedra da Pera foi tranquilo, mesmo com os olhares desconfiados de Roberto, que notava cada movimento novo em sua volta, ele sabia que estava tudo dando certo, quando reclamou a Lucas que sua barriga estava roncando de fome.




       Lucas resmungou e concordou, tirando da mochila um lençol que foi posto no chão onde os dois puderam se sentar enquanto comiam seus salgadinhos. Durante a conversa sobre o que fariam quando chegassem lá, Lucas notou algo estranho, ele tinha carregado a bateria do seu celular durante toda a tarde, e antes de entrarem na floresta tinha checado o celular que informava 89% de carga e de repente o celular desligou sem nenhum motivo aparente. O medo por um estante surgiu próximo a eles. Lucas decidira continuar o caminho mas por muita insistência e ameaças de Roberto resolveram voltar.

        O caminho de volta parecia mais longo, eles tinham a sensação de estar na floresta a mais de horas sem conseguir achar o pátio da empresa. Tentaram riscar as arvores a fim de verificar se já tinham passado por elas. Lucas começou a chorar de medo enquanto Roberto tentava bolar algum outro plano de saírem dali, mas sem sucesso.

      Viram ao longe, pequenos flashs luminosos e sons constantes, porém baixos, parecia uma espécie de martelo batendo em algum tipo de pele ou pano grosso.

“Achamos a Fábrica”



      Correram em direção a batida que cada vez ficava mais audível e os flash agora se transformaram em uma luz vermelha dançante e constante no meio da floresta. O som ganhara um ritmo frenético, vozes podiam ser ouvida, mas não compreendidas. Lucas e Roberto chegaram mais próximos do local e puderam ver em uma clareira natural no meio da floresta talvez a cena mais bizarra e profana que as crianças já tinham visto: um grupo de humanoides esqueléticos dançavam histericamente em torno de uma grande fogueira, essa fogueira que ao centro carregava um grande ídolo de pedra negra. A estátua tinha cerca de 2 metros, mostrando uma criatura medonha e demoníaca de 5 chifres espalhados por toda a cabeça, 3 olhos arregalados sendo o terceiro ao centro da testa, uma bocarra sedenta com dentes caninos e um corpo de serpente que ao centro da costa trazia azas de morcego. Os seus adoradores fétidos pintados de preto e vermelho, cantavam em alto e bom som numa linguagem jamais ouvida pelos dois, eles malmente conseguiam entender a frase repetida inúmeras vezes pelos demônios dançantes.




“Kabrlahl yunet Olomoph derthum”

      A lua brilhava cada vez mais forte, o cântico dos seres dantescos que dançavam afetava sobrenaturalmente tudo ao redor. Animais eram atraídos emitindo os sons mais desesperadores possíveis, pássaros voavam ao redor da fogueira berrando seus agouros e defecando sob os dançarinos nefastos.

         Em um arbusto pouco afastado da clareira, Lucas e Roberto entraram em uma espécie de transe espiritual, não conseguiam mais controlar seus corpos que agora caminham em direção a fogueira do Deus Olomoph, o senhor dos ventos.

         Os idólatras começaram a dilacerar coelhos, esquilos, raposas e qualquer animal que tivesse sido atraído pelo canto hipnótico se banhavam com o sangue deles. Enquanto os garotos caminhavam em direção a fogueira, outros adoradores abriram caminho estripando animais e jorrando sangue e vísceras em Lucas e Roberto.

        “Kabrlahl yunet Olomoph derthum”

       Os meninos agora também repetiam a invocação. Pararam em frente a fogueira, se ajoelharam e olharam a lua eclipsar em fogo, fazendo passagem para a visão mais horrenda que iriam ver em toda sua vida, um corpo pútrido em forma serpente descia dos céus em direção a eles. Quando Olomoph pairou sobre a fogueira, todos os outros idólatras se ajoelharam também, cantando e chorando cada vez mais alto a invocação de Olomoph.

    A serpente demoníaca de 5 chifres, com olhos flamejantes respondeu sem mover sua fétida e bolorenta boca. O som indecifrável parecia reverberar do coração da floresta. As criaturas ferozes e imundas gritavam agora, agonizando, chorando, pulando, mordendo uns aos outros, matando todos os animais que estavam em sua volta com suas próprias unhas. Olomoph olhou em direção aos garotos, quando seu terceiro olho brilhou fazendo com que Lucas e Roberto repetissem.

           “Kabrlahl yunet Olomoph derthum”

        O diabo escancarou sua boca ensanguentada em frente dos garotos, que agora gargalhavam, choravam e se abraçavam de felicidade. Repetindo sem parar a blasfema invocação daquele imundo demônio quando foram dominados pela escuridão.

       Após 7 incansáveis anos de procura pelos pais e a polícia local, o caso dos garotos Lucas e Roberto foi arquivado sem resposta nenhuma. A fábrica foi fechada 5 meses após o incidente, o dono declarou falência se mudando da cidade sem dar vestígios nenhum. Relatos de moradores afirmam que durante as madrugadas de lua cheia, podem ser ouvidos gargalhadas de crianças vindo da floresta.



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O Lobisomem da Lua Minguante




Nova Inglaterra, ano 1670.

As ovelhas e os cavalos estavam inquietos no estábulo naquela noite, parecia que estavam pressentindo a chegada de algum predador, e realmente estavam. A lua cheia no céu mais parecia um balão branco e brilhante com o dobro do tamanho normal. A família dentro da sua pequena casa de madeira sabia o que isso significava, que o lobo gigante estava na espreita.

Essa não era primeira vez que um animal desses apareceu para amedrontar a família de Paterson Marback, sua filha mais velha, Elizabeth, uma vez ficou cara a cara com um deles, mas ele conseguiu matá-lo antes que uma tragédia acontecesse, essa foi a primeira vez que ele matou um desses seres das trevas. Em outra oportunidade foi ele que quase morreu, mas conseguiu matar o animal novamente, infelizmente como consequência perdeu um braço.


Todos se juntaram no quarto para esperar o que fosse acontecer, Peterson decidiu agir mesmo assim, pegou sua lança afiada com a ponta de prata e foi para a rua. Tinha alguma coisa lá dentro, os animais estavam amontoados em um canto, ele foi em silêncio contra o vento, sabia que o bicho podia sentir o seu cheiro, olhou entra as frestas e estava lá curvado devorando um cavalo inteiro. Peterson se preparou e atirou a lança, foi certeiro, o bicho com a lança cravada nas costas correu de volta para a floresta para morrer longe, dessa vez foi mais fácil que ele imaginava, o lobisomem era pequeno, deveria ser novo, mas a coisa que mais intrigava ele era esse surto de lobisomens que começou a aparecer.

Todas as outras casas da redondeza comemoraram mais um feito de Peterson, ficou conhecido como o “Matador de Bestas”. Tudo ficou mais tranquilo depois do ocorrido, as crianças voltaram a brincar nos pátios, a colheita estava indo bem, e os animais já pastavam tranquilos, mas toda essa paz estava prestes a acabar.


Peterson tinha saído para a cidade grande vender sua colheita, conseguiu uma grande quantia por tudo, antes de voltar para casa parou em um estabelecimento para tomar alguma coisa e se vangloriar das suas façanhas, quando decidiu voltar para casa já era noite, uma grande lua minguante pairava no céu, e ele pensou sem lobisomens por hoje.

Vinha conduzindo a carroça em meio ao barro e as pedras, com um braço só e ainda embriagado era uma tarefa bem difícil, quando chegou notou que algo estava muito estranho, os animais estavam agitados no estábulo. Sua lança estava na entrada da casa, a porta aberta, primeira coisa que veio na sua cabeça foi lobisomem, mas a lua estava minguante, nunca antes um deles se transformou nessa fase dela.

Ele pegou a lança com cuidado deveria estar preparado para qualquer coisa, passou pela porta e o sangue já encontrou os seus pés, era muito sangue, andou mais a frente e encontrou seus filhos esquartejados ferozmente, cabeças, braços, pernas, tripas, amontoados no meio da sala como se fosse algum tipo de ritual macabro.


Na cozinha curvado comendo a sua esposa, um lobisomem enorme, o maior que ele já tinha visto, e também o mais diferente, ele era cinza, ele preparou a sua lança, mas antes de atirar, o lobisomem o notou e se virou para encara-lo, Peterson não fraquejou iria atirar quando o monstro voltou para sua forma humana, ele se ajoelhou no chão quando viu quem era, Elizabeth, sua filha mais velha, agora era uma besta das trevas. Não teve coragem de matar a sua filha e caiu aos prantos no chão, ela o abraçou confusa do que estava acontecendo.

Ambos ficaram ali até o amanhecer, quando alguém das redondezas apareceu e viu aquela cena terrível, Peterson foi preso e logo em seguida enforcado pelos assassinatos, Elizabeth foi levada por uma família, nunca mais se ouviu notícias dela nem da família que a adotou.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Visões da Filha do Diabo


A Madre Tereza acorda cedo como de costume, desamarra seus longos cabelos pretos que estavam presos por uma fita, se espreguiça como sempre faz ao levantar, retira seu pijama e coloca o seu hábito para começar as suas primeiras rezas. O sol ainda não tinha dado as caras para o início da manhã, os passarinhos ainda se mantinham silenciosos. Uma brisa gelada passa pela janela, fazendo a Madre ter calafrios espontâneos, caminha até a janela olhando para a rua, que estava deserta, muito incomum mesmo para aquele horário, sempre tinha alguém na parada esperando o primeiro ônibus a circular. Ela sempre cumprimentada quem estivesse ali seja ela quem for, mas dessa vez passou em branco.


Ajoelha-se na cama e começa suas orações de começo do dia, mas teve que parar imediatamente quando um passarinho bate na sua janela com força, parecia que vinha em um mergulho veloz até o vidro, não resistiu morreu com o pescoço quebrado, a Madre decidiu homenageá-lo dedicando algumas das orações para ele.

Poucos minutos depois de terminar todas as preces, a freira Dorothy bateu na sua porta.

- Bom dia, Madre!

- Bom dia, irmã! Despertou cedo hoje, antes do sol nascer, já está pegando as minhas manias!?

- Não Madre, já viu que horas são?


Tereza olhou para o relógio que ficava encima de sua porta, estava tão acostumada a acordar no mesmo horário que nem se dava o trabalho de olhar o relógio. Já eram oito horas da manhã, algo estava errado, o sol ainda nem mostrava sinal de aparecer, e mesmo que estivesse nublado, o que não era o caso, pelo menos uma claridade tinha que ter, mas a escuridão era total e absoluta, o breu era a única coisa visível a alguns metros de distância. As duas saem do quarto.

- O que será isso Madre? – Dorothy estava assustada.

- Já viu se esse relógio está mesmo certo?

- Sim, vi sim.

- Não deve ser nada, ás vezes o sol demora a nascer.

- Mas se não for isso, e se tiver começado o juízo final?

- Não fale besteira Dorothy, vamos temos muito que fazer hoje, cadê o resto das irmãs?

Dorothy não teve tempo de responder a pergunta, escutam batidas na porta de entrada do Convento, batidas fortes e constantes. Tereza se encaminha para abrir, mas Dorothy a segura pelo braço.

- Estou com um mau pressentimento Madre! – ela estava com os olhos arregalados.

Tereza não deu bola para a suplica dela e se dirigiu até a porta, demorou a abrir por alguns segundos, pois escutou um tipo de choro no outro lado, abriu a porta com rapidez. Não tinha ninguém no outro lado, olhou pro céu e estava preto como se fosse de madrugada ainda, algumas luzes que iluminavam a rua estavam apagadas, o que dava uma sensação fantasmagórica ao local.


Tereza se vira para fechar a porta e um vulto preto pula encima dela, uma garota enlouquecida estava nas suas costas, fazia um tipo de grunhido com a boca, ambas caem no chão, a Madre tenta se desvencilhar, mas é mordida no braço, os dentes da garota pareciam podres. A mordida arranca um pedaço de carne, Dorothy desesperada tenta ajudar de alguma forma, quando toca na garota desesperada ela para, a observa com um olhar de terror, sai de cima de Tereza e vai pro canto como se estivesse com medo de Dorothy.

Dorothy se ajoelha no chão com o olhar fixo para frente, suas íris tinham desaparecido ficando apenas com os olhos brancos assustadores, Tereza levanta confusa enquanto ela começa a falar com uma voz distorcida e alta.

- A película do turvamento foi ultrapassada, os herdeiros do grande pilar da criação vão sugar tudo o que é deles por direito. Hoje a ascensão eterna do mal começa. – ela cai no chão babando.

Continua...



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